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Hugo Sabido: “Objectivo para a Volta é a defesa do nosso líder Nocentini”

Este ano, o Sporting Clube de Portugal regressou ao ciclismo aliando-se ao clube mais antigo da modalidade no activo, o Tavira. Nas suas fileiras uniu juventude e maturidade, garantindo lugar a Hugo Sabido, de 36 anos, um dos mais experientes ciclistas lusos do pelotão nacional.

A experiência e qualidade enquanto corredor revelam-se nos resultados obtidos esta temporada. Entre classificações gerais e lugares em etapas, Hugo Sabido reúne onze Top 10 em provas nacionais, destacando-se o 5º lugar na geral da Volta a Albergaria [1ª prova da Taça de Portugal], 5º no Grande Prémio do Dão, 6º na Volta à Bairrada, 8º no Campeonato Nacional de Contra-relógio e 9º no Grande Prémio Jornal de Notícias. Entre os lugares cimeiros alcançados em etapas, assinala-se o 2º lugar no contra-relógio do Grande Prémio do Dão, apenas superado em 20s por Rafael Reis (W52-FC Porto).

À partida para a 39ª edição do recente Troféu Joaquim Agostinho, Hugo Sabido acedeu prontamente a falar com o Cycling & Thoughts sobre a temporada, a indefinição vivida no final do ano transacto relativamente à continuidade da carreira, passando pela incontornável Volta a Portugal.

Hugo Sabido pedala pela equipa Sporting CP-Tavira
(foto Helena Dias)

Dono de uma grande serenidade nas palavras ao longo da entrevista, Hugo Sabido começou por fazer um balanço positivo das competições disputadas até ao momento. “Até agora tem sido uma temporada positiva. Pessoalmente, tenho mantido uma constância durante toda a época, em todas as competições desde que iniciei na Volta ao Alentejo. Comecei mais tarde do que os meus colegas, porque também comecei mais tarde a preparação de inverno pela indefinição da equipa e de continuar a correr. As coisas resolveram-se, retomei as minhas pedaladas já quase no final do mês de Novembro e, para não estar a precipitar a preparação de inverno, optei em conjunto com o director Vidal Fitas começar só na Volta ao Alentejo. Creio que foi uma aposta ganha. Pelo menos, tenho mantido sempre uma mesma constância nas corridas em que tenho participado, tanto em prol da equipa como no Grande Prémio do Dão, onde alcancei o 5º lugar na geral. Foi o melhor posicionamento até agora.”

Sobre a forma como se convive com a referida indefinição de não se saber se terá lugar numa equipa no ano seguinte, Hugo é peremptório na resposta. “Mal. Somos mais maduros e não temos muito a perder pelo facto de deixarmos de correr nesta idade, após os 34/35 anos, no meu caso 36. No entanto, o gosto, uma vida passada em cima da bicicleta, a completa noção de que existe vontade, características e qualidades… ficar sem correr de um momento para o outro é realmente duro, mas para isso serve a família, os amigos, também os fãs e são eles que me fazem seguir em frente e continuar a lutar.”

Dessa luta resultou a contratação pela equipa verde e branca, num ano marcado pelo regresso do clube de futebol Sporting ao ciclismo. Revela com entusiasmo: “Foi a salvação. Não só para mim como para o Tavira. É público que o Tavira veio para a estrada pela junção com o Sporting Clube de Portugal. Para mim, foi uma honra enorme quando recebi o telefonema do Vidal Fitas a convidar-me para fazer parte do plantel, o qual aceitei de imediato, quando já tinha outra opção de escolha. Do nada, surgiram duas equipas e optei pelo Sporting-Tavira. Estou extremamente grato e muito satisfeito.”

Como é bem conhecido do público em geral, a Volta a Portugal é o grande objectivo das equipas lusas e para a esquadra de Hugo Sabido não é diferente. Este ano enfrentam a rainha das provas nacionais com um novo líder, Rinaldo Nocentini, que acaba de vencer o Troféu Joaquim Agostinho, antessala da Volta, onde Hugo Sabido e os companheiros viveram os dois últimos dias em intensa defesa da camisola amarela.

Hugo Sabido no comando do pelotão em defesa da amarela
de Nocentini no Troféu Joaquim Agostinho
(foto Helena Dias)

Para Hugo, os objectivos para a Volta a Portugal são muito concretos. “O objectivo inicial e principal para a Volta é a defesa do nosso líder Rinaldo Nocentini, que é o nosso homem para a geral. A equipa vai tentar estar em bloco para o ajudar e apoiar nos momentos mais difíceis. Em segundo lugar, espero que a sorte nos acompanhe em relação a lesões. Pessoalmente, ao longo da minha carreira, quando estou bem fisicamente acontece sempre alguma coisa e este ano aquilo que peço é mesmo que a sorte esteja do nosso lado e não haja infortúnios.”

Nos últimos anos, temos visto diversos corredores estrangeiros chegarem à Volta a Portugal e debaterem-se com o difícil terreno que a dureza da Volta oferece ao pelotão. Para Hugo, esse é um factor que não surpreenderá o italiano Nocentini.

“Normalmente isso acontece quando as equipas vêm só para a Volta a Portugal. Os estrangeiros vêm e ficam um pouco surpreendidos, porque têm um calendário internacional mais sobrecarregado e quando cá chegam a Volta a Portugal é uma corrida peculiar, tem a característica de ter o calor e o terreno sempre acidentado. Nós não temos etapas planas como na Volta a França, Espanha ou Itália. Existe sempre alguma emboscada a esperar os ciclistas e creio que isso faz a diferença quando uma equipa chega com muitos dias de competição e apanha essas dificuldades. A moral vai-se um pouco abaixo e a moral influencia muito a parte psicológica no rendimento físico. O Rinaldo Nocentini iniciou a época e realizou competições no nosso país, creio que não vai ter essa dificuldade. Aliás, já está totalmente adaptado tanto à equipa como ao terreno do país.” Assim o demonstrou vencendo dias após esta entrevista a geral do Troféu Joaquim Agostinho.

Questionado sobre a possibilidade de alcançar um triunfo pessoal na Volta, em particular nas etapas de contra-relógio em que se tem destacado na sua carreira, Hugo refere: “Pelo pedido do director desportivo, vou tentar estar bem no prólogo para discutir os primeiros lugares da classificação. Já o contra-relógio final é uma etapa diferente, porque apresenta todo o desgaste da Volta a Portugal. Alguns de nós vão chegar bem psicologicamente, porque a Volta correu bem e, tal como eu disse anteriormente, a parte psicológica é fundamental para a parte física e chegando forte mentalmente creio que se poderá fazer um bom contra-relógio no final. Se se chegar debilitado psicologicamente, o resultado poderá não ser tão bom. Por isso vemos nos contra-relógios finais que quem está a discutir a geral normalmente anda bem, porque está melhor fisicamente mas também porque a parte psicológica está no topo e sentem-se fortes animicamente. Esses ciclistas, que não são especialistas, fazem uns bons contra-relógios no final.”

O ano passado foi 10º no esforço individual do prólogo de 6 km em Viseu, ficando a 20s da vitória obtida pelo belga Gaeten Bille (Verandas Willems). Em 2011 alcançou a sua única vitória na Volta, no final dos 2,2 km do prólogo em Fafe com direito a vestir a desejada camisola amarela. Este ano, a Volta inaugura a 78ª edição em Oliveira de Azeméis com um curto contra-relógio de 3,6 km, no qual poderá brilhar.

No fecho da entrevista, confessou o que lhe dá força para continuar no ciclismo e sair todos os dias a treinar ao fim de longos anos na estrada. “O gosto e creio que é muito importante a gestão da carreira. O que me faz sair [para treinar] é continuar a gostar de pedalar, acreditar que consigo obter bons resultados e que sou útil à equipa e aos jovens valores que o nosso ciclismo tem”, concluiu Hugo Sabido.

Hugo Sabido no alto de Montejunto,
Troféu Joaquim Agostinho (foto Helena Dias)
Detalhe da bicicleta de Hugo Sabido
(foto Helena Dias)

Comentários

  1. Belíssimas entrevistas. Parabéns.

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  2. otima entrevista , agora seria bom ter uma com o Nocentini se for possivel. Força Helena!!!

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